A BONDADE QUE LIBERTA.
08 de JUNHO de 2020.
Para ser bom é preciso coragem! É demasiado fácil fazer mal às pessoas e conformar as coisas segundo os interesses do ego sem considerar a dimensão social do mal. Difícil é percorrer as sendas da bondade.
Rubem Alves diria:
“As asas da alma se chamam coragem. Coragem não é a ausência de medo. É lançar-se, a despeito do medo”.
Três horas da manhã, uma mulher bate à porta, pede ajuda. Foge do esposo furioso e violento. um irmão a acolhe, sem saber quem é e o que aconteceu. Em seguida chega o marido com uma arma em punho procurando o lugar onde ela se escondera, quer matá-la e ninguém sabe as razões. Sob uma reação, meu amigo responde que ela não está ali. O homem se vai... Num gesto de solidariedade, ele revela que a veracidade dos fatos não é maior que a vida. Ele mudou o rumo daquela história sem saber o que havia acontecido.
Esta história se parece com outra narrada pelo evangelista João (8, 1-11): um bando de homens religiosos e moralistas estão prestes a apedrejar uma mulher. Pela lei, seguindo a certeza dos fatos e uma interpretação conservadora, se permitia que fosse apedrejada até a morte. Jesus a acolhe e enfrenta os seus perseguidores invertendo a lógica. Talvez ele tenha interpretado a Escritura sob a ótica da compaixão: “se vós soubésseis o que significam estas palavras: ‘misericórdia quero, e não holocaustos’, não teríeis condenado os que não tem culpa” (Mt 12,7). Ou quem sabe, tenha corrigido o entendimento errôneo daqueles que procuravam encaixar a Lei sagrada aos próprios interesses, já que em Levítico (Lv 20,10) quem se deitou com a adultera não pode fechar os olhos às consequências nefastas do ato. Escrevendo na areia o Mestre revela a face social do adultério e liberta aquela pessoa da expiação: “quem não tem pecado atire a primeira pedra” (Jo 8,7).
No Brasil, infelizmente, a cada duas horas uma mulher é assassinada. O machismo e o preconceito tradicionais constituem uma grande ameaça à nossa sociedade, pois tendem a delegar à mulher um papel de subserviência. A bondade é um gesto do amor, não é farisaica ou legalista. Paulo orientou aos romanos para acolherem a todos, com bondade, até mesmo os que, levados por suas convicções, se acham bons cidadãos: “acolhei o fraco na fé, com bondade, sem discutir as suas opiniões” (Rm 14, 1).
“Há bondade que se acha no inferno”, ironizava Charles Bukowski, mas a bondade essencial à vida surge de uma verdade que liberta. Confúcio dizia: "saber o que é o bem e não praticá-lo, é falta de coragem". Para ser bom é preciso coragem!
imagem: https://jornalggn.com.br/noticia/o-mito-de-procusto-nos-ensina-sobre-a-violencia-no-desacordo/
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